terça-feira, 26 de maio de 2009

O significado da ceia do Senhor

Nota: AT = Antigo Testamento ; NT = Novo Testamento

Qual é o significado da ceia do Senhor?


O Senhor Jesus instituiu duas ordenanças (ou sacramentos) para serem observados pela igreja. O capítulo anterior [da Teologia Sistemática do autor] discutiu o batismo, ordenança que é observada somente uma vez como sinal do começo da vida cristã de uma pessoa. Este capítulo vai dissertar sobre a ceia do Senhor, ordenança que deve ser observada repetidamente ao Longo de toda a nossa vida cristã como sinal de continuidade na comunhão com Cristo.

A. Comer na presença de Deus: uma bênção especial por toda a Bíblia Jesus instituiu a ceia do Senhor do seguinte modo:

Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, deu graças, partiu-o, e o deu aos seus discípulos, dizendo:

Tomem e comam; isto é o meu corpo”. Em seguida tomou o cálice, deu graças e o ofereceu aos discípulos, dizendo: ”Bebam dele todos vocês. Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados. Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai” (Mt 26.26-29)

Paulo acrescenta as seguintes frases da tradição que recebeu (lCo 11.23): “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso, sempre que o beberem em memória de mim” (1 Co 11.25)

Há alguns antecedentes dessa cerimônia no Antigo Testamento? Parece que há, pois houve exemplos de comer e de beber na presença de Deus na antiga aliança também. Por exemplo, quando o povo de Israel estava acampado diante do Monte Sinai, exatamente após Deus ter dado os Dez Mandamentos, Deus chamou os líderes de Israel para subirem à montanha a fim de se encontrarem com ele:

Moisés, Arão, Nadabe, Abiú e setenta autoridades de Israel subiram e viram o Deus de Israel [...] eles viram a Deus, e depois comeram e beberam” (Êx 24.9,11).

Além disso, cada ano o povo de Israel devia dizimar (dar o dízimo) de todas as suas colheitas. Então a lei de Moisés especificava: “Cotam o dízimo do cereal, do vinho novo e do azeite, e a primeira cria de todos os seus rebanhos na presença do SENHOR, o seu Deus, no local que ele escolher como habitação do seu Nome, para que aprendam a temer sempre o Senhor, o seu Deus. [...] Então juntamente com suas famílias comam e alegrem-se ali, na presença do SENHOR, o seu Deus” (Dt 14.23,26).

Porém mesmo antes disso Deus havia colocado Adão e Eva no jardim do Éden e lhes havia dado tudo de sua abundância para comer (exceto o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal). Desde que não havia nenhum pecado naquela época e como Deus os tinha criado para companheirismo com ele mesmo e para sua própria glória, cada comida que Adão e Eva comiam deve ter sido uma refeição festiva na presença do Senhor.

Quando essa comunhão na presença de Deus foi quebrada posteriormente pelo pecado, Deus ainda permitiu que algumas refeições (como o dízimo dos frutos mencionados anteriormente) fossem feitas em sua presença. Essas refeições eram uma restauração parcial da comunhão com Deus que Adão e Eva desfrutaram antes da queda, muito embora ela fosse deteriorada pelo pecado. Mas a comunhão do comer na presença do Senhor que encontramos na ceia do Senhor é muito melhor. As comidas sacrificais no AT apontavam continuamente para o fato de que os pecados não haviam sido pagos ainda, porque os sacrifícios eram repetidos ano após ano e porque eles olhavam para o Messias que estava por vir para lhes retirar os pecados (v. Hb l0.1-4). A ceia do Senhor, contudo, nos lembra do pagamento completo que Jesus já fez por nossos pecados, de forma que podemos agora comer na presença do Senhor com grande regozijo.

Todavia, mesmo a ceia do Senhor anseia pela refeição comunitária ainda mais maravilhosa na presença do Senhor no tempo futuro, quando a comunhão do Éden será restaurada e haverá alegria muito maior, porque os que comerem na presença do Senhor serão pecadores perdoados
confirmados em justiça, capazes de nunca mais pecar. O tempo futuro desse comer na presença de Deus é sugerido por Jesus quando ele diz: “Eu lhes digo que, de agora em diante, não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que beberei o vinho novo com vocês no Reino de meu Pai (Mt 26.29). Apocalipse nos fala mais explicitamente a respeito da ceia das bodas do Cordeiro: “E o anjo me disse: ‘Escreva: Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro!’ E acrescentou: ‘Estas são as palavras verdadeiras de Deus” (Ap 19.9). Esse será um tempo de grande regozijo na presença do Senhor, assim como será um tempo de reverência e de temor diante dele.

Do Gênesis ao Apocalipse, portanto, o alvo de Deus tem sido levar seu povo à comunhão com ele, e uma das grandes alegrias de experimentar essa comunhão é o fato de que podemos comer e beber na presença do Senhor. Seria saudável para a igreja hoje reconquistar um senso mais vívido da presença de Deus na mesa do Senhor.

O significado da ceia do Senhor

O significado da ceia do Senhor é complexo, rico e amplo. Há diversos símbolos afirmados na ceia do Senhor.

1. A morte de Cristo.

Quando participamos da ceia do Senhor, simbolizamos a morte de Cristo, porque nossas ações delineiam um quadro de sua morte por nós. Quando o pão é partido, simboliza o partir do corpo de Cristo; e quando o conteúdo do cálice é derramado, simboliza o sangue de Cristo vertido por nós. Essa é a razão pela qual a participação na ceia do Senhor é também uma espécie de proclamação: “Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha” (lCo 11.26).

2. Nossa participação nos benefícios da morte de Cristo.

Jesus ordenou aos discípulos: Tomem e comam; isto é o meu corpo” (Mt 26.26). Quando individualmente tomamos o cálice, um de nós está, por meio dessa ação, proclamando: “Estou me apropriando dos benefícios da morte de Cristo”. Quando fazemos isso, estamos fornecendo um símbolo do fato de que participamos ou partilhamos dos benefícios obtidos pela morte de Cristo por nos.

3. Nutrição espiritual.

Do mesmo modo que a comida comum nutre o corpo, assim o pão e o vinho da ceia do Senhor nos trazem nutrição. Mas eles também ilustram o fato de que há alimento e uma refeição espiritual que Cristo dá à nossa alma — de fato, a cerimônia que Jesus instituiu é, em sua verdadeira natureza, designada para nos ensinar isso. Jesus disse: “Se vocês comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa” (Jo 6.53-57).

Certamente Jesus não está falando de comer literalmente sua carne e seu sangue. Mas, se não de comer e beber literalmente, então ele deve ter em mente uma participação espiritual nos benefícios da redenção que adquiriu para nós. Essa nutrição espiritual, tão necessária para a alma é tanto simbolizada como experimentada em nossa participação na ceia do Senhor.

4. A unidade dos crentes.

Quando os cristãos participam juntos da ceia do Senhor, também dão um sinal claro de sua unidade um com o outro. De fato, Paulo diz: “Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão” (1 Co 10.17).

Quando colocamos essas quatro coisas juntas, começamos a perceber alguns dos significados mais ricos da ceia do Senhor. Quando participo, venho à presença de Cristo, lembro que ele morreu por mim, participo dos benefícios de sua morte, recebo nutrição espiritual e me sinto unido com todos os outros crentes que participam dessa ceia. Que grande motivo de ação de graças e alegria deve ser achado nessa ceia do Senhor!

Mas além dessas verdades visivelmente ilustradas pela ceia do Senhor, o fato de que Cristo instituiu essa cerimônia para nós significa que por meio dela ele está também nos prometendo ou afirmando certas coisas. Quando participamos da ceia do Senhor, devemos nos lembrar repetidamente de duas afirmações que Cristo está nos fazendo.

5. Cristo afirma seu amor por mim.

O fato de que sou capaz de participar da ceia do Senhor - na verdade, Jesus me convida a vir — é um lembrete vivido e um sinal visível e seguro de que Jesus me ama individual e pessoalmente. Quando venho participar da ceia do Senhor, encontro desse modo uma certeza renovada do amor pessoal de Cristo por mim.

6. Cristo afirma que todas as bênçãos da salvação estão reservadas para mim.

Quando o convite de Cristo para participar da ceia do Senhor, o fato de que sou convidado à sua presença me assegura de que ele tem bênçãos abundantes para mim. Nessa ceia, estou realmente comendo e bebendo um antepasto do grande banquete do Rei. Venho a essa mesa como membro de sua família eterna. Quando o Senhor me dá boas-vindas a essa mesa, ele me assegura que me receberá com todas as demais bênçãos da terra e do céu, e especialmente para a grande ceia das bodas do Cordeiro, na qual um lugar foi reservado para mim.

7. Eu afirmo a minha fé em Cristo.

Finalmente, enquanto como o pão e bebo o cálice, com essas ações estou proclamando: “Preciso de ti e confio em ti, Senhor Jesus, para perdoar os meus pecados e dar vida e saúde para a minha alma, porque somente pelo teu corpo partido e pelo teu sangue vertido eu posso ser salvo”. De fato, quando participo do partir do pão e o como e quando participo do verter do sangue e o bebo, proclamo repetidamente que os meus pecados foram parte da causa dos sofrimentos e morte de Jesus. Desse modo a tristeza, a alegria, a ação de graças e o profundo amor por Cristo são ricamente misturados na beleza da ceia do Senhor.

Autor: Wayne Grudem
Fonte: Teologia Sistemática do autor, Ed. Vida Nova

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